terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Christian Courtin Clarins – Presidente do Conselho do Grupo Clarins

"É muito difícil o seu negócio dar algum lucro quando 45% dele está caindo por causa da moeda. Os acionistas só querem saber do lucro, não se importam com a sua empresa”
                              

                       
Christian Courtain Clarins - viajando o mundo para promover políticas da empresa


1 – Porque a Clarins resolveu sair do mercado de ações?
É interessante porque a razão pela qual eu e meu irmão decidimos tirar a Clarins do mercado de ações é a mesma razão da crise: curto prazo ou dinheiro rápido.

A Clarins entrou no mercado de ações em 1994 porque éramos uma empresa pequena e precisávamos ter acesso ao dinheiro público para que pudéssemos desenvolver o nosso Centro de Pesquisas e enquanto estivemos nesse mercado, tivemos uma história bem sucedida.


Com o dinheiro coletado nós efetivamente desenvolvemos o Centro de Pesquisa em Cosméticos e Cuidados com a Pele. Mas nos últimos dez anos senti que as coisas tinham mudado. Antes as finanças estavam a serviço da economia. Agora a economia e a indústria estão a serviço das finanças.

Como rapidamente passamos a ser uma empresa forte, muitas pessoas queriam investir em nossa empresa para fazer dinheiro rápido e isso não era mais o que estávamos buscando, porque se quiséssemos manter a qualidade de nossos produtos, se quiséssemos investir em pesquisa e na qualidade dos ingredientes precisávamos de tempo.

Depois que decidimos sair do mercado de ações, coincidentemente há um ano – nós nos retiramos do mercado de ações em setembro de 2008 -, a crise financeira mundial emergiu. Agora me sinto livre porque não temos mais ninguém julgando nosso trabalho.

2 - Que tipo de pressões a Clarins sofreu do mercado de ações e de seus acionistas para tomar a decisão de se retirar dele?
Eu tenho uma empresa internacional. Fabrico tudo na França. Arrisquei 45% do total de meus negócios em dólar Americano. Quando o dólar caiu– 20% em um ano e depois 20% de novo. É muito difícil o seu negócio dar algum lucro quando 45% dele está caindo por causa da moeda. O mercado de ações quer lucro apenas. E os acionistas dizem: Porque você não reduz a qualidade de seus produtos, porque você não vai fabricar na China, porque vocês não despedem funcionários. Então eles apostam em nossa empresa apenas pelo lucro rápido que ela pode lhes proporcionar, mas não ligam a mínima para a empresa, as pessoas que trabalham nela e se eles não ligam para estas pessoas eu não quero estar com eles.

3 - Como os consumidores e os varejistas em geral reagiram ao reposicionamento da empresa como empresa privada novamente?
Eles entenderam que queríamos manter a qualidade de nossos produtos. E nos deram uma resposta muito positiva.

4 - Foi difícil comprar sua empresa de volta?
Não, mas foi caro. No entanto, não há preço pela liberdade.

5 - Como a Clarins se posiciona no mercado hoje? Ela tem o mesmo tamanho que antes?
Sim somos uma grande empresa porque somos uma empresa líder em cuidados com a pele, estamos bem sólidos com a marca Thierry Mugler e, você deve saber, nosso perfume feminino Angel, é a quarta fragrância feminina em vendas no mundo e com Azzaro estamos entre as quinze fragrâncias top mais vendidas do mundo. Então estou bem feliz com esta posição. Sofremos com a crise como todo mundo, mas não sofremos muito porque muitas mulheres, mesmo numa crise como esta, não deixam de ter os cuidados com a pele. Nossa maquiagem vai bem também porque eu diria que maquiagem traz muito prazer às mulheres. As fragrâncias sofreram um pouco mais porque toda mulher tem pelo menos cinco perfumes e agora elas compram menos, mas ainda assim estão usando o que ganham de presente. Mas sofremos porque a economia toda sofreu, mas não muito. Estamos sofrendo menos que nossos concorrentes porque, de acordo com estatísticas, estamos ganhando participação de mercado em quase todo o mundo.

6 – Mas produtos Premium, que normalmente custam mais, têm mercado apesar da crise?
Nossa política é tentar produzir a melhor marca para os cuidados com a pele. Gastamos cerca de €35 milhões todo ano em pesquisas por um preço que eu chamo de preço VIP, que é o preço real de um produto, com o valor da pesquisa e dos ingredientes que utiliza.
É como quando uma pessoa muito importante, um VIP, vai a um bom restaurante e tem a melhor mesa, ela não está pagando pela melhor mesa, está pagando apenas pela qualidade do restaurante como um todo.
Quando uma pessoa não muito importante vai a um bom restaurante ela paga pela comida especial, pelos ingredientes especiais e pela mesa. Com nossos produtos eu trato nossos consumidores como VIPs.

7 - Diante da crise financeira e com o Brasil se destacando no cenário mundial de cosméticos, especialmente pela diversidade de seus ativos naturais, com os quais a Clarins também trabalha, o senhor tem algum projeto de fábrica para o país?
Não, para maximizar a qualidade da maneira que produzimos, decidimos fabricar tudo na França, porque temos um laboratório imenso. Quando você trabalha com plantas, você precisa ter muito controle, porque não é como estar no negócio de vinhos em que a safra de 2009 foi boa e a de 2010 talvez, porque não está chovendo muito. Estamos no negócio em que a qualidade constante é exigida; precisamos controlar ingrediente por ingrediente. Então o nosso laboratório é bem grande e caro. Por isso decidimos nos concentrar em apenas um lugar para fabricar nossos produtos e esse lugar é a França. Então não temos planos de ter qualquer fábrica aqui.



8 - Nem ter um laboratório de pesquisas na Amazônia?
Ficarei feliz em fazer as coisas que eu tenho feito no resto do mundo, que é enviar nossos pesquisadores para buscar ativos interessantes para nossos produtos. Temos alguém que coordena cerca de 23 Indiana Jones que vão para toda parte no mundo desenvolver pesquisas com novas plantas.

9 - A Clarins trabalha com fornecedores brasileiros de ativos da biodiversidade da Amazônia?
Sim, mas eu não os conheço. Não conheço nossos fornecedores. Apenas sei que buscamos os melhores fornecedores em todo lugar. Temos uma pessoa que faz contato com fornecedores em diversos países. Estou para me encontrar com aquele que está trabalhando para nós no Brasil, mas eu não o conheço ainda.

10 – Desde quando a Clarins aposta na sustentabilidade?
Na primeira vez que vim ao Brasil, em 1985, encontrei um senhor, chamado Ribeiro, que era da ONG Pro-Natura, especializada em desenvolvimento sustentável e a conversa que tivemos me inspirou a ter essa visão.

11 – O senhor veio ao país na época já com propósitos comerciais?
Vim conhecer o Brasil, saber o que eu poderia fazer neste mercado, mas o mercado na época era muito fechado. Só era possível vender produtos aqui se produzíssemos localmente e já tínhamos decidido produzir apenas na França, porque nossa opção de fabricar produtos naturais é meio complicada, para explicá-la prefiro fazer uma analogia com os peixes – em cada oceano eles têm um nome diferente e muitas variações. Assim também é com as plantas.

12 - Qual é o propósito de sua visita ao País desta vez?
Quero reintroduzir a marca Clarins, fazer com que as pessoas se conscientizem do que é a nossa marca, o grupo, bem como nossas políticas sociais. Vim também para encontros com a imprensa, com varejistas, encontrar certas pessoas do mercado, enfim para entender um pouco o que mudou por aqui, o que teremos que nos adaptar para buscar maior eficiência, junto como meu novo parceiro no país.  Estou muito feliz com ele, é um bom parceiro e temos um ótimo relacionamento. A Neutrolab entende muito bem este mercado. Sendo assim, temos todos os ingredientes para fazer da Clarins a número um em cuidados com a pele no Brasil. Este é o nosso objetivo.

2 comentários:

Simone Ballan disse...

Muito bom seu blog.. parabéns!

Unknown disse...

Boa noita parabens pelo investimento!!quero trabalhar com vcs!demontrando seus produtos. bj